Orange Disaster - cães sedentos atrás de um filé

Quem ainda estiver em dúvida sobre ir ou não mexer o corpo no Bar Fly hoje à noite, coloco aqui um pouco do papo com os caras do Orange Disaster, uns barulhentos raivosos, que sobem ao palco hoje, por volta das 23h30. Eles são Davi Rodriguez – que no OD ganha a alcunha de Pepe, espanca a bateria, JC Magalhães hoje esgoelando de microfone em punhos, Mr Crazy e Vinny F nas guitarras.

>> Primeiro, gostaria que você falasse quem é o Orange Disaster, quem dá voz à barulheira e pra quem vocês tocam? Tipos, quem é que dá tesão de ver na platéia, ouvindo o som de vocês?

Pepe (Davi): Bom, quem cuida da voz é o JC. Aí temos dois guitarristas – o Vini e o Mr. Crazy, cuidando das guitarras aguda e grave, respectivamente. E eu baqueto tudo. Mas...

JC: não somos o od. só fomos quem captou a "vibração", e, por alguma razão, ela prefre continuar se manifestando através desse grupo de pessoas. tomara que não mude de idéia...

Mr. Crazy: somos tipo, o "estrondo do trovão"... (risos) uma reação aos estímulos, bons ou ruins, do ambiente em que vivemos.

Pepe: quanto ao público, não temos uma preferência étnica, física, de gênero ou de espécie. é sempre legal tocar pra quem estiver atento e gostando do esporro. Pode ser um cachorro abanando o rabo, pode ser uma gostosa mostrando os peitos, pode ser um lutador de kung fu fazendo coreografias estilo Jet Li no ritmo...

JC: tocamos para liberar certas emoções ruins. se voce precisa se livrar dessas mesmas emoções, podemos ser utéis. ou voce pode querer nos ouvir pra fins puramente recreativos...

Vini: É! a gente gosta de dividir emoções, sejam elas quais forem, desde que intensas. e quem estiver disposto a dividí-las será bem-vindo no nosso
show.

Pepe: tendo troca, é tesão na certa (risos).


>> Todos (ou a maioria? esclarece aí pra gente) têm outros projetos, outras bandas, com perfis até bem diferente da OD. Como é que vocês conciliam agendas, egos, preguiças, ensaios e estilos? E também, como não misturar a pegada de uma com o estilo da outra; isso é fácil?

JC: seria mais adequado se os outros falassem de mim, mas acredito que todos nós temos habilidades específicas como instrumentistas e compositores que não queriamos ou podiamos usar nas outras bandas. então as jogamos no od e elas fazem o que ele é.

Pepe: acho que o lance de ter banda é de ter uma concessão eterna pelo coletivo. existem limites que são colocados e impostos pelo gosto de cada um; e, aí, tem coisas que eu quero tocar que outras pessoas não querem e vice-versa - a gente simplesmente não toca nessa banda; toca em outra. o legal do OD é isso – a gente toca coisas que quer tocar mas não rola de tocar em nenhuma outra banda. não tem preocupação em não tocar parecido, as coisas saem e só. e, se for prestar bem atenção, tem muita coisa parecida entre nossas outras bandas e o OD.

Mr. Crazy: Com o Orange a gente conseguiu uma constância de ensaios de um ano pra cá, até além das expectativas... mesmo com todos os componentes tendo suas bandas e projetos, conseguimos produzir bastante e chegar naturalmente ao som que a banda faz hoje...vejo as coisas no Orange de uma forma bem simples: a gente chega e toca.

Vini: o bom do od é que cabe qualquer coisa no que se refere à estilo. se, de repente, quisermos tocar samba ou death metal, não vai haver barreiras. todo mundo conhece e consome muita coisa de música.


>> Vocês se descrevem como pessoas "movidas pela vontade de escapar da tensão" em São Paulo e das frustrações com as outras bandas. Que elementos, sensações dessa relação tensão / frustração aparecem nas músicas do OD?


JC: estamos tentando devolver pra São Paulo o barulho que ela dá pra nós, mostrar sua beleza, sua intensidade.
Pepe: é. na verdade não acho que tenha melhor resposta pra essa pergunta do que a própria música que nós fazemos. podemos até tentar verbalizar, dizendo que falamos muito sobre drogas, sobre sexo, sobre trânsito, sobre drogas no trânsito, sobre sexo no trânsito, sobre sexo com drogas no trânsito, sobre trânsito nas drogas do sexo e sobre a incapacidade (risos). sei lá... as coisas fazem mais sentido com a música mesmo, espero.

Mr.Crazy: Assim como meditação, sexo ou drogas, tocar alto e rápido também funciona(risos).

>> E o processo de composição, como é? Como é que as influências de cada um se dissolvem na criação?

JC: antigamente tentavamos compor do modo mais imediato e rápido possível, pra encher as músicas com o máximo de energia possível. hoje encontramos algumas soluções pra fazer isso sem precisar de todo mundo tocando numa sala minúscula com o volume no 15. Mas ainda fazemos isso de vez em quando, só pelo divertimento (risos).

Pepe: é igual amante, ou começo de namoro – qualquer coisa que a gente faz a gente acha bonito. e, se a gente acha bonito, ta dentro. depois pensa como articular uma coisa com a outra. pra ajudar, o JC tem um monte de letra pronta – a gente sorteia uma e encaixa. o segredo é o KY!(risos)

>> A própria descrição da banda me leva a vê-los (enganos permitidos, correções aceitas) com um perfil bastante urbano e visceral. Vocês se enxergam assim? Urbanos em busca de diversão e alguma velocidade/violência/visceralidade rock'n'roll?

JC: Somos pessoas que trabalham em ambientes controlados, com atividades que exigem grande concentração e alto grau de responsabilidade. A banda serve pra por o caos que fica represado no dia a dia pra fora. Equilibra a mente e traz paz.

Pepe: eu diria que o máximo de bucolismo que conseguimos alcançar é algo tão lindo quanto um escapamento de ônibus. e juro que não é sarcasmo.
Mr.Crazy: Cof! Cof!


>> O nome, Orange Disaster, é referência ao Andy Warhol? Se interessam por pop art... ?

Pepe: Sim! de maneira um tanto involuntária, mas sim (isso responde às duas perguntas).
JC: Achamos legal o fato de seu trabalho não ter um grande objetivo ou significado, exceto o que o observador lhe dá. Um dia acertamos de fazer algo parecido...
Mr.Crazy: Esteticamente estamos mais pra "quatro cães sedentos atrás de um filé"... se isso é pop art, então estamos dentro.


>> Quem é o mais barulhento da banda; tem como dizer isso? Parece que houveram mudanças na sonoridade, como foi isso? Quem entrou, quem saiu..?

Vini: com certeza é o Mr. Crazy, ele é tipo, o "vórtex" do barulho!

JC: não... o davi fala mais alto!

Pepe: acho que é o vini que sola mais alto - ele já teve uma banda de metal industrial que me deixou surdo por uns dias!

Mr.Crazy: Pra mim é o Julio que fala e grita mais alto. E, como fui o último a entrar na banda, ainda estou meio deslumbrado... (risos de todos)

JC: e o som mudou um pouco porque as pessoas mudaram. minha impressão é que ficou um pouco mais estruturado. bem pouco...

Pepe: E as mudanças na sonoridade são proporcionais à mudança de integrantes, mesmo... somos todos amigos, com gostos parecidos mas não exatamente iguais. a pegada do início se manteve em muitas coisas, mas mudou na medida em que cada um gosta mais de uma coisa ou outra.

JC: tem uns probleminhas, não pessoais, mas legais, que nos impedem de falar mais detalhadamente das mudanças de formação. mas todas tem mais a ver com tempo disponível do que diferenças pessoais. as pessoas que estão na banda são amigos, as que não estão mais são amigos.

Vini: o mais legal é que o orange é um ponto de convergência entre os gostos de todos os integrantes (mesmo os que saíram). isso transforma o som deixando a cara de cada um e totalmente diferente de cada projeto.


>> Davi eu sei que conhece Campo Grande, o Bar Fly e o hábito das cusparadas de cerveja. E os demais, já passaram por aqui? Conhecem a "cena" dessa ponta de cá do Cerrado?

Mr.Crazy:Estamos bem animados! pra mim vai ser uma novidade tocar em Campo Grande!

Vini: cusparada de cervejas?!?!? ninguém vai poder reclamar se eu tocar sem camisa!(risos) e quanto a campo grande, eu to muito empolgado pra tocar aí! das bandas de CG, gosto muito da Dimitri Pellz.

JC: Nunca fui em Campo Grande - não conheço a cena local. Mas vou ver o que aprendo enquanto estiver aí.

>> Vocês tocaram no Grito, em fevereiro (li que vocês estreiaram lá, foi mesmo?). Por onde mais já passaram, do circuito independente, e que lugares destacam, como boas iniciativas?

JC: É, foi o primeiro show inteiro. Já tocamos em alguns básicos, como o Outs e Funhouse, entre outros...Mas São Paulo é grande, tem muitos outros lugares pra fazer e decidimos não correr muito até o ep sair.
Pepe: eu, como o mais viajado (ui) da banda, poderia destacar vários lugares e públicos legais que nós pretendemos visitar – Maringá, Porto Velho, Goiânia, Cuiabá, Porto Alegre, Curitiba... tem o Nordeste, tem um monte de lugar legal fora de SP. além de Campo Grande, claro. enfim, lugar não falta, a cena está crescendo de um jeito interessante... dá pra ter esperança, apesar de algumas politicagens e corporativismos meio escrotos que a gente tem sacado pelo Brasil.


Mr Crazy:Alguns festivais tem uma, digamos, "atitude suspeita" na hora da seleção das bandas, o que pra mim os coloca no mesmo saco que grandes corporações de comunicação de massa...


>> Pra encerrar, diz aí quais os planos da OD, os próximos shows e o que deve vir pela frente?
JC: Ano que vem, vamos acabar uns Eps que começamos e ver se gravamos o disco. Aí vamos pular nesse lance de shows mais a sério. vou tentar aprender a jogar truco direito. E ouvir o "Astral Weeks" do Van Morrisson inteiro, se der tempo...
Mr.Crazy: o Fogo no Cerrado vai fechar o ano muito bem para o Orange... acho que agora é lançar os Ep´s, depois a gente grava o disco e vê o que que vai dar (risos)

Vini: Ah, iremos lançar, além do nosso ep, um disco de covers só com bandas de mulheres - provando nossa diversidade! Vai ter muita coisa do orange em 2009...

Pepe: Tem também uma tour grande pra sair, mas não podemos revelar muito dela ainda; e um clipe e um sonho. mas até pra você entrevistar a gente de novo, só vamos falar mais detalhes na próxima vez.

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